Para tentar entender como funciona a DOR, começaremos pelo CONCEITO!
“É uma EXPERIÊNCIA sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a LESÃO REAL ou POTENCIAL dos tecidos.” (IASP, 1994, International Association for the Study of Pain).
Então se DOR é uma EXPERIÊNCIA, portanto ela não é sinônimo de LESÃO!!!
Existe uma baixa correlação nos níveis de DANO ESTRUTURAL(doenças) de diversas partes do corpo com a incapacidade funcional, em especial na coluna vertebral (Domenech et al, 2011).
Kuslich et al (1991), demonstrou que o disco da coluna é uma fonte possível e comum da dor lombar, mas não significa que tem que existir alteração da estrutura (abaulamento, protusão, hérnia, osteoartrose…) para ter a dor! Um simples movimentos no disco ou nas estruturas em torno dele, podem causar dor.
Hoje sabemos, que indivíduos sem dor, também apresentam hérnias, degeneração discal, protusão, espondilolistese, osteoartrose, e que essas alterações aumentam progressivamente com a idade, mesmo em indivíduos sem dor.
Ou seja, esses achados são normais da idade, e não necessariamente a causa da dor (Brinjikji, et al, 2014)
Notem na tabela abaixo, que as alterções encontradas na coluna lombar que frequentemente encontramos nos laudos de Exame de Ressonância Magnética, são também encontradas em pessoas SEM DOR.
Dor lombar é o sintoma mais comum, e o que mais incapacita as pessoas no Brasil e no mundo!!! (GBD 2015 Global Disease and Injury Incidence and Prevalence Collaborators (2016).
Mesmo sendo muito comum, a maioria das Lombalgias são classificadas como LOMBALGIAS INESPECÍFICAS , ou seja em 90% delas não se sabe a causa exata da dor…
Abaixo o exemplo clássico de uma boa avaliação sobre dor Lombar, com um profissional capacitado. Notem que na classificação final, 90% das lombalgias são inespecíficas, pois existem muitos tecidos que podem inervados e podem provocar dor.
Bardin, et al, 2017.
Pois bem, se 90% das lombalgias são inespecíficas, sem causa exata, seria mais interessante podermos classificá-la para podermos direcionar um tratamento, em vez de tentar achar um único culpado, se é que existe apenas um.
E o mesmo ocorre na cervical. A comum incompatibilidade entre dano tecidual e dor é sustentada por uma série de estudos que mostram a ausência de causalidade entre achados em exames de imagem e dor. Ou seja, pacientes assintomáticos apresentam as mesmas alterações degenerativas, decorrentes do processo de envelhecimento, e não necessariamente estão relacionadas à dor. (Nakashima et al, 2015; Spine).
Portanto, os achados em exames de imagem devem ser interpretados no contexto da condição clínica do paciente, isto é, através de uma abordagem baseada em mecanismos da dor (Chimenti et al., 2018).
Seguindo esse raciocínio, a maiorias das dores que chegam em nossos consultórios, podem ser de característica:
– Mecânica: sendo na maioria das vezes intermitente, e as vezes constante. Certos movimentos repetidos, causam Centralização (diminuem ou migram em direção a coluna), ou fazem a dor permanecer melhor. Movimentos em uma direção vão melhorar os sintomas, enquanto movimentos na direção oposta, vão piorá-los. A rigidez e a limitação irão melhorar a medida que os sintomas melhorarem. Medicação pode aliviar a dor, mas volta após algum tempo.
– Química: Dor constante, de início rápido ou traumático. Sinais cardinais podem estar presentes (edema, rubor, calor e dor). Piora com todos os movimentos, sendo que nenhum movimento diminui, elimina ou centraliza a dor. Geralmente respondem a medicação significativamente, pois este tipo de dor tem característica INFLAMATÓRIA, e por isso não melhora com nenhum movimento. Poderíamos ter como exemplo uma dor de garganta.
– Crônica (classificada pelo tempo): dor que persiste por mais de 3 meses podendo ser classificada como Sensibilização Central, (tendo características especificas para tal, sendo avaliada por um profissional capacitado) ou persistente: Influenciada por fatores mecânicos e não mecânicos. Pode haver fatores neurofisiológicos, psicológicos ou sociais. Alguns pacientes podem responder com terapia mecânica normalmente, e outros evoluindo de forma mais lenta. Precisam de uma abordagem multifacetada, incluindo as vezes terapia cognitiva comportamental, através de uma Abordagem Biopsicossocial, com ênfase em Educação em Neurociência da Dor, e estratégias físicas, apresentadas de forma gradativa.
O profissional atualizado, deve realizar uma consulta inicial, através da avaliação da história, exame físico, testes específicos, testes neurológicos, testes de mobilidade e suas combinações de testes (CLUSTER), sinais e sintomas, que posteriormente serão organizados em SÍNDROMES, SUBGRUPOS e CATEGORIAS, para ajudar a determinar o prognóstico, e a mais apropriada estratégia de intervenção, (Rose, 1989). Existem hoje, questionários com alto grau de confiabilidade, em que se pode avaliar os fatores psico-sociais, e quantificá-los para indicar tratamentos específicos, para o tratamento de dor crônica ou sensibilização central.
DOR MECÂNICA (grande parte das queixas de dor): Apesar de comum, não podendo ser diagnostica através de exames, e sim através de TESTES COM MOVIMENTOS MANTIDOS OU REPETIDOS.
Quando fazemos os MOVIMENTOS EM UMA DIREÇÃO, e a dor ao ser retestada, DIMINUI OU CENTRALIZA, podemos afirmar que temos uma preferência direcional, (preference directional (DP)), e o prognóstico é favorável, se for tratada como DOR MECÂNICA, principalmente com exercício específico (Donelson, 1997).
Existem também REGRA DE PREDIÇÃO CLÍNICA (RPC), testes, sinais e sintomas que enquadram os pacientes em SUBGRUPOS ESPECÍFICOS, que direcionam o tratamento para o tratamento com TERAPIA MANUAL (OSTEOPATIA por exemplo), tendo maior probabilidade de resultado (Laslett, 2003), Cibulka, 1999.
Através de informações atualizada, temos que desmistificar o conceito de que DOR é igual a LESÃO. O exame de imagem é complementar, não é uma sentença, e a alteração que aparece com a idade é um processo fisiológico (normal), sendo que na maioria das vezes não é a causa da dor, pois a “DOR é uma EXPERIÊNCIA sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a LESÃO REAL ou POTENCIAL dos tecidos.” (IASP, 1994, International Association for the Study of Pain).
Mas porque tenho que entender sobre dor?
Porque na atualidade, a maioria dos profissionais, ainda relacionam a DOR COM LESÃO, OU DANO ESTRUTURAL. E se você tomou medicação, fez repouso, vários tratamentos e a dor não passa, é possível que você esteja sendo tratado de forma inadequada, pois na imensa maioria das vezes, existe tratamento efetivo.
Você não deve “se acostumar com a dor”, há profissionais em constante atualização para diagnosticar e tratar todas as regiões do sistema musculoesquelético. Isso significa que, se você tem um problema em uma articulação, ligamento, tendão, músculo, osso, na coluna, pescoço, perna, braço, ombro, joelho, cotovelo, tornozelo, punho, pé, mão ou tronco, você tenha que ter dor, rigidez ou restrição para trabalhar e exercer as atividades diárias comuns. Procure um profissional atualizado e capacitado, e que se interesse pelo seu caso.
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